O INVENTOR

Pegue o liquidificador, misture teatro, cinema, tv, literatura, uns outros ingredientes e…voilá.

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nós

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– Fala, braço!
– Pô, coé, mano! Tranquilidade?
– Suave. Se liga, tu fez a parada lá?
– Qual parada?
– Do bagulho lá, pô!
– Ih, pode crer. Nem.
– Tu é mó vacilão, lek.
– Mas tá de boa, qnd eu chegar em casa, te mando.
– Já é.
– Nós!
– Ah, e manda aquele outro negócio tb.
– Nós. Flw.
– Vlw.
*
Enquanto isso, estupefato, admiro os caminhos tortuosos pelos quais a comunicação moderna tem seguido. De fora, tento penetrar surdamente nesse mundo rocambolesco da linguagem juvenil, em que um simples pronome reto, isoladamente, produz um poderosíssimo efeito estilístico. E nada. Continuo de fora mesmo.
Talvez o arcaico seja eu.
Arcaicos somos nós. Nós?

Written by Marcos M.

dezembro 13, 2014 at 10:50 am

Publicado em crônicas

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A atualidade da poesia, por Antonio Cícero

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Frequentemente, ao fazer conferências ou participar de mesas de debates pelo Brasil afora, ouço pessoas que perguntam se a poesia escrita não seria um gênero inteiramente anacrônico no mundo acelerado em que vivemos, cercados de “smarphones”, “tablets”, “laptops”, “Facebooks”, “Twitters”, “Instagrams”, “WhatsApps” etc.
Creio entender a razão pela qual a atualidade da poesia é mais questionada do que a de outros gêneros artísticos tradicionais. É que, de maneira geral, as outras artes podem ser apreciadas não apenas de modo refletido e profundo, mas também são capazes de nos entreter de modo ligeiro e superficial. Podemos apreciar uma peça musical mesmo enquanto estamos, por exemplo, trabalhando. E podemos apreciar uma obra plástica como uma pintura ou uma escultura, por exemplo, “en passant”. A poesia escrita, por outro lado, quase sempre exige de nós, para que a apreciemos, que a leiamos de modo refletido e profundo.
A mais evidente razão para isso é que a linguagem do poema não funciona do modo convencional e cotidiano. Normalmente, usamos a linguagem como um instrumento para a comunicação e o pensamento prático, utilitário, instrumental. Pois bem, a linguagem do poema nem se limita a ser mero instrumento ou meio, nem está a serviço do pensamento instrumental. No poema, fundem-se meio e fim, assim como outras categorias que, no uso convencional da linguagem, tendem a se manter separadas, tais como essência e aparência, forma e conteúdo, significante e significado etc. Por isso, não podemos ler um poema ao modo impensado, ligeiro, superficial, automático, irrefletido em que lemos a maior parte das coisas. A leitura do poema toma tempo, e dá trabalho.
Ora, algo que, além de tomar tempo e dar trabalho, não oferece qualquer perspectiva de trazer alguma recompensa palpável — e, de preferência, pecuniária — é simplesmente incompatível com a hoje predominante apreensão instrumental do ser. Para esta, ela não faz senão atrapalhar a vida.
Pois bem, é exatamente por ser capaz de impedir a redução da vida a essa sua dimensão instrumental que a poesia é importante no mundo contemporâneo. É ao subverter ou perverter a linguagem instrumental e sua correspondente apreensão instrumental do ser que a poesia convida o leitor a se permitir livremente enredar e fascinar pelos sentidos dos versos, palavras, paronomásias, metáforas, metonímias, alusões, sugestões, melodias, ritmos, silêncios, espaços etc. dos poemas. E é ao deixar, nesse empenho, interagirem e brincarem em seu pensamento razão, emoção, intelecto, sensibilidade, intuição, memória, senso de humor etc., que o leitor enriquece a vida com um outro modo de apreensão do ser: o poético.

Written by Marcos M.

dezembro 3, 2014 at 2:11 pm