O INVENTOR

Pegue o liquidificador, misture teatro, cinema, tv, literatura, uns outros ingredientes e…voilá.

Diário da quarentena 1

leave a comment »

22.04.2020

Inspirado pelo J.P. Cuenca, que começou a produzir um diário com  a experiência vivida na quarentena, decidi tirar o pó deste espaço (cujo único leitor sou eu, certamente) e aproveitar para lançar questões, angústias e reflexões deste período de isolamento. Do dia de hoje, uma quarta-feira, trago um grifo na minha leitura do excelente Brasil: uma biografia, da Lilia Schwarcz e da Heloisa Starlin.

“Aquele barco (…), pelo intolerável fedor, pela escassez de espaço, pelos gritos contínuos e pelas infinitas misérias de tantos infelizes parecia um inferno”. Eis aí uma das poucas descrições de um tumbeiro vindo da África trazendo os escravos. As palavras são do Frei Sorrento, escritas em 1649.

Written by Marcos M.

abril 22, 2020 at 11:21 pm

Publicado em Uncategorized

A uma passante

leave a comment »

A rua, em torno, era ensurdecedora vaia.
Toda de luto, alta e sutil, dor majestosa,
Uma mulher passou, com sua mão vaidosa
Erguendo e balançando a barra alva da saia;

Pernas de estátua, era fidalga, ágil e fina.
Eu bebia, como um basbaque extravagante,
No tempestuoso céu do seu olhar distante,
A doçura que encanta e o prazer que assassina.

Brilho… e a noite depois! – Fugitiva beldade
De um olhar que me fez nascer segunda vez,
Não mais te hei de rever senão na eternidade?

Longe daqui! tarde demais! nunca talvez!
Pois não sabes de mim, não sei que fim levaste,
Tu que eu teria amado, ó tu que o adivinhaste!

Written by Marcos M.

janeiro 27, 2020 at 11:32 am

Publicado em Uncategorized

Silvana, eu te amo

leave a comment »

Written by Marcos M.

março 17, 2019 at 6:17 pm

Publicado em Uncategorized

As cores de outros mares

leave a comment »

Tenho uma relação muito paradoxal com o mar: é medo misturado com fascínio, eu acho. Hoje parei pra pensar nisso, porque a primeira vez que vi o mar do Nordeste foi diretamente do topo do mundo, como em um sonho; o verde era o mais verde que eu já tinha visto na vida e, lá do alto, o horizonte todo se abria para mim. Para nós. Lembrei-me do vai-e-vem das ondas, que levam e trazem notícias de outros mares. E de outros mundos. Lembrei-me da caminhada debaixo do sol quente, sendo guiados por pedras rumo ao desconhecido. Lembrei-me de um tempo que redimensionou a noção do próprio tempo, fazendo caberem vários dias em um só. Talvez o mar me fascine justamente pela sua dimensão antitética. Ao mesmo tempo em que traz viajantes, ele também os leva, tal qual uma garrafa à deriva lançada às ondas. Tantas chegadas e tantas partidas. Tudo que foi trazido é levado de volta e a água, com toda a sua potência, apaga os rastros das marcas de pegadas inscritas na areia. A força do tempo em apagar pegadas é incomparável. Quando a maré finalmente desce, resta zarpar à procura de outros mares, outras rotas e, claro, diversas outras cores que dão sentido à vida.

Written by Marcos M.

março 15, 2019 at 9:36 am

Publicado em Uncategorized

Tudo que eu queria te dizer

leave a comment »

Por esses dias, depois de um tempo distantes um do outro, andei relendo a minha querida Martha Medeiros, que teve um papel fundamental em uma fase da minha vida, e me deparei com um exemplar empoeirado de um dos meus favoritos dela: tudo que eu queria te dizer. Depois, lembrei que cheguei até a assistir a uma adaptação teatral desse texto com a (incrível) Ana Beatriz Nogueira, que transitava com a mais perfeita naturalidade pelos diversos personagens a quem dava voz e corpo. A premissa é relativamente simples; trata-se de um livro de cartas. E é justamente aí que mora a magia do negócio, porque imaginem só textos e mais textos, nos mais diversos formatos, com os mais diversos emissores e receptores, encharcados de palavras não ditas, que encontraram ali o seu lugar. Nisso, claro, passei a pensar no próprio título do livro e em tudo- ou quase tudo- que eu gostaria de dizer a um certo alguém. Acontece que, na hora H, a gente trava, bloqueia e engasga. Inclusive, abri a minha sessão de análise desta semana dizendo que eu estava transbordando silêncios. Forte isso. Ao longo da vida, acumulamos silêncios e não ditos que vão nos sufocando em diversos níveis, até que a conta, um dia, vem bater na nossa porta. Lutei para entender que algumas histórias, simplesmente, são impossíveis de serem contadas, por mais que tentemos e nos esforcemos para fazê-lo. E olha que tentativas não faltaram. Talvez sejam essas impossibilidades que machuquem tanto. Chega um momento, no entanto, em que é preciso assumir o fracasso, levantar a bandeira branca e reconhecer que, muitas vezes, por medo, insegurança, insensibilidade ou covardia, as pessoas estão fechadas às possibilidades de trocas com o Outro, quem quer que seja ele. Nisso, nosso imaginário vai ficando povoado pelas mais belas histórias que não foram ou que poderiam ter sido. O futuro do pretérito é a dor que mais dói, ouso dizer. Aos poucos, tentamos transformar isso em outra coisa e essa dor pode, eventualmente, romper a barreira do silêncio e se transformar em palavras. No fim, quem sabe, elas acabarão em um belo livro, que servirá de abrigo a todas essas vozes. Obrigado, Martha. Muito obrigado.

Written by Marcos M.

março 8, 2019 at 2:08 am

Publicado em Uncategorized

Lonjuras

leave a comment »

E o médico perguntou:

o que sentes?

Sinto lonjuras, doutor.

Sofro de distâncias.

*

Faz um tempo que li esses quatro versos, atribuídos a Denison Mendes, e volta e meia eles voltam para me assombrar. Afinal, também sofro de lonjuras e sempre sou arrebatado pela pior de todas as conclusões: não há tratamento. Talvez o tempo, vá lá, mas isso não conforta muito em um momento de angústia. A gente roda, vai, volta, fica, vai e nada. Acho que, no fundo, no fundo, o maior problema é que muitas dessas distâncias não são apenas físicas. Antes fossem. Alguns viajam a trabalho e pronto. Outros vão ao encontro de familiares em outra cidade. Aqueles de coração apertado vão atrás de um amor. Nesses casos, um avião, um trem ou um ônibus podem resolver o problema. O negócio complica quando, apesar disso, somos tomados pelo sentimento paradoxal de um perto que é longe. Ao longo dos anos, senti isso na pele e cheguei à conclusão de que a pior solidão é aquela vivida a dois, quando um abismo se instala entre duas pessoas e não há meio de torná-las mais próximas. Como dói. Toda viagem traz consigo um quê de esperança- para os que vão e para os que ficam. Toda distância percorrida carrega a ansiedade dos encontros possíveis. Toda travessia é um mergulho no desconhecido. Nem sempre, claro, encontramos as respostas pelas quais buscamos; muitas vezes, inclusive, encontramos as respostas que não queremos ouvir, mas faz parte do jogo. Aos poucos a gente aprende um pouco dessas regras. A vida é assim mesmo: encurta, alonga, estica e contrai. Desses espaços que vão ficando pelo caminho, vamos tirando uma coisa ou outra se ficarmos atentos. Logo em seguida, quando nos recuperamos dos tropeços, levantamos a cabeça, ansiando por novos caminhos para percorrer e outras tantas histórias para escrever. É isso. Precisamos buscar as histórias que queremos contar. É o único remédio possível para curar essa dor.

Written by Marcos M.

março 6, 2019 at 4:44 pm

Publicado em Uncategorized

Hotel room

leave a comment »

Written by Marcos M.

março 6, 2019 at 7:49 am

Publicado em Uncategorized

Sentir-se amado

leave a comment »

O cara diz que te ama, então tá. Ele te ama.

Tua mulher diz que te ama, então assunto encerrado.

Você sabe que é amado porque lhe disseram isso, as três palavrinhas mágicas. Mas saber-se amado é uma coisa, sentir-se amado é outra, uma diferença de milhas, um espaço enorme para a angústia instalar-se.

A demonstração de amor requer mais do que beijos, sexo e verbalização, apesar de não sonharmos com outra coisa: se o cara beija, transa e diz que me ama, tenha a santa paciência, vou querer que ele faça pacto de sangue também?

Pactos. Acho que é isso. Não de sangue nem de nada que se possa ver e tocar. É um pacto silencioso que tem a força de manter as coisas enraizadas, um pacto de eternidade, mesmo que o destino um dia venha a dividir o caminho dos dois.

Sentir-se amado é sentir que a pessoa tem interesse real na sua vida, que zela pela sua felicidade, que se preocupa quando as coisas não estão dando certo, que sugere caminhos para melhorar, que coloca-se a postos para ouvir suas dúvidas e que dá uma sacudida em você, caso você esteja delirando. “Não seja tão severa consigo mesma, relaxe um pouco. Vou te trazer um cálice de vinho”.

Sentir-se amado é ver que ela lembra de coisas que você contou dois anos atrás, é vê-la tentar reconciliar você com seu pai, é ver como ela fica triste quando você está triste e como sorri com delicadeza quando diz que você está fazendo uma tempestade em copo d´água. “Lembra que quando eu passei por isso você disse que eu estava dramatizando? Então, chegou sua vez de simplificar as coisas. Vem aqui, tira este sapato.”

Sentem-se amados aqueles que perdoam um ao outro e que não transformam a mágoa em munição na hora da discussão. Sente-se amado aquele que se sente aceito, que se sente bem-vindo, que se sente inteiro. Sente-se amado aquele que tem sua solidão respeitada, aquele que sabe que não existe assunto proibido, que tudo pode ser dito e compreendido. Sente-se amado quem se sente seguro para ser exatamente como é, sem inventar um personagem para a relação, pois personagem nenhum se sustenta muito tempo.

Sente-se amado quem não ofega, mas suspira; quem não levanta a voz, mas fala; quem não concorda, mas escuta.

Agora sente-se e escute: eu te amo não diz tudo.

*

Martha Medeiros, junho de 2001

Written by Marcos M.

março 5, 2019 at 6:33 pm

Publicado em Uncategorized

O nascimento de Baleia

leave a comment »

“Escrevi um conto sobre a morte duma cachorra, um troço difícil como você vê: procurei adivinhar o que se passa na alma duma cachorra. Será que há mesmo alma em cachorro? Não me importo. O meu bicho morre desejando acordar num mundo cheio de preás. Exatamente o que todos nós desejamos. A diferença é que eu quero que eles apareçam antes do sono, e padre Zé Leite pretende que eles nos venham em sonhos, mas no fundo todos somos como a minha cachorra Baleia e esperamos preás. É a quarta história feita aqui na pensão. Nenhuma delas tem movimento, há indivíduos parados. Tento saber o que eles têm por dentro. Quando se trata de bípedes, nem por isso, embora certos bípedes sejam ocos; mas estudar o interior duma cachorra é realmente uma dificuldade quase tão grande como sondar o espírito dum literato alagoano. Referindo-me a animais de dois pés, jogo com as mãos deles, com os ouvidos, com os olhos. Agora é diferente. O mundo exterior revela-se a minha Baleia por intermédio do olfato, e eu sou um bicho de péssimo faro.” (Ramos, 1980, p.194-5)

Written by Marcos M.

março 1, 2019 at 7:36 pm

Publicado em Uncategorized

Clínica de argumento

leave a comment »

Written by Marcos M.

fevereiro 10, 2019 at 7:38 am

Publicado em Uncategorized