O INVENTOR

Pegue o liquidificador, misture teatro, cinema, tv, literatura, uns outros ingredientes e…voilá.

Archive for novembro 2018

desabafo

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Pronto, começou a caça às bruxas. Demorou pouco, inclusive. Tenho ficado horrorizado com os comentários atrozes que têm sido feitos sobre mim, sobre os meus colegas, sobre a sala de aula. A docência, realmente, é para os fortes. O salário da rede pública, para longas jornadas de trabalho, não chega a R$2.000. Trabalha-se em mais de um lugar para sustentar a família. Às vezes, são três turnos: manhã, tarde e noite. Aí você faz especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado, para tentar ganhar um pouco mais. E leva trabalho para casa. E compra material do próprio bolso. E vira noites preparando aula. No meio disso tudo, lida com as questões psicológicas dos alunos, com a burocracia das instituições, com a falência de um sistema. Entendo muito bem o meu lugar de privilégio nessa engrenagem toda, mas cada tapa dado em um professor é dado em mim também. Professor, agora, é vilão, vejam vocês. Doutrina, aliena, castra. Vem a prova do ENEM, por exemplo, e tematiza questões de extrema relevância, como feminismo, racismo, visibilidade LGBT, manipulação na internet e a galera cai em cima. “Escola sem partido!”, eles vociferam. Amigo, meu partido é a humanidade. Semana passada, uma aluna começou a chorar em sala, pois a melhor amiga tinha cometido suicídio no dia anterior, por ter contado para os pais que era lésbica e o pai tê-la espancado. Uma menina de, sei lá, uns 15 anos. Segurei o choro na hora, mas desabei depois. Como não? Minha aluna não sabia lidar com o luto da perda da melhor amiga e eu não sabia o que dizer para tentar amenizar essa dor. Todos nós temos que nos haver com o suicídio dessa menina; está na nossa conta. Sou professor, tenho orgulho do lugar que ocupo e dos vínculos de afeto que a sala de aula me permitiu construir. Se for pra ir pra fogueira, que seja. Caio, mas caio lutando.

Written by Marcos M.

novembro 6, 2018 at 12:41 pm

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5.5 milhões

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Amanhã é o primeiro dia de provas do ENEM 2018. Lancemos um breve olhar ao número de inscritos das edições anteriores. Observem:
ENEM 2018: 5.5 milhões
ENEM 2017: 6.1 milhões
ENEM 2016: 9.2 milhões
ENEM 2015: 8.4 milhões
ENEM 2014: 9.5 milhões

Essa queda expressiva (e assustadora) ao longo dos anos tem explicação e tem explicação bem clara: educação, no nosso país, é para poucos. A falência do sistema educacional é parte de um projeto. O ataque aviltante a professores amordaçados em sala é parte de um projeto. O acesso restrito ao ensino superior é parte de um projeto. Educação assusta e é privilégio, por isso eu sigo lutando com todas as minhas forças nessa frente de resistência. Acredito, sim, que as palavras libertam e que a sala de aula emancipa. Rubem Alves, por quem tenho profunda admiração, disse tudo: escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do voo. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros, porque a essência dos pássaros é o voo.

É isso.
*

Aos meus alunos e aos outros tantos milhões que farão esta prova amanhã, uma excelente prova. Vocês são sujeitos políticos em atividade e isso, mais do que nunca, é necessário. Afinal, quem se abre para a leitura e para a educação tem a chave do mundo. Vão e se libertem. Estou ao lado de todos vocês.

Written by Marcos M.

novembro 3, 2018 at 7:37 am

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