O INVENTOR

Pegue o liquidificador, misture teatro, cinema, tv, literatura, uns outros ingredientes e…voilá.

Archive for janeiro 2019

Ouçam o dotô

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Se há algo que eu detesto em nosso país é a nossa cultura bacharelesca- ela não se resume ao Brasil, claro, mas ganha contornos especiais aqui. Explico: título, para muitos, é sinônimo de status. Médico é doutor. Advogado é doutor. Dentista é doutor. Nutricionista é doutor. E pior: isso se desdobra na síndrome do pequeno poder, o famoso “você sabe com quem você tá falando?”, alimentando nosso ciclo de desigualdade. Prefiro morrer.
 
Muitos sonham com títulos, consagrações, nomes da porta, cargos de poder e acabam consumidos pelo pedantismo de achar que são mais do que são, vejam só que destino cruel. Reis do nada e diretores de coisa alguma. Parabéns. Sugiro a leitura do conto O Espelho, do nosso bom e velho amigo Machado. A partir dele, lanço a pergunta: se você veste uma farda de alta patente, o que vê quando se olha no espelho?
 
Entre doutores e doutores, eu fico mesmo é com o dotô, que, ouso dizer, talvez tenha bem mais a nos ensinar. Resta aprender a ouvir.

Written by Marcos M.

janeiro 22, 2019 at 4:17 pm

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Você não é uma nota

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Ontem foram divulgadas as notas do ENEM 2018 e também já temos a lista de classificados na primeira chamada do vestibular da UERJ. Qualquer professor fica muito orgulhoso com as mensagens dos alunos celebrando excelentes resultados e, em muitos casos, as aprovações. Comigo não é diferente. Ao longo de um ano letivo, por vezes, choramos junto com as angústias, mas vibramos, também, com as alegrias que a linha de chegada pode trazer.

Mas queria falar sobre outra coisa. Nosso modelo educacional é cruel, sabemos bem. E é cruel, acima de tudo, por canalizar para uma nota as expectativas de tantos jovens, que acham que seu potencial é medido simplesmente por um resultado quantitativo. Nisso, vem a pressão desmedida, a concorrência aumenta, as notas de corte ficam cada vez mais inacessíveis e desiguais. É predatório e haja saúde mental para não sucumbir a isso.

Queridos, sinto-me na obrigação de dizer: as quedas e os louros fazem parte do processo. Por mais autoajuda que possa parecer, muitos precisam de um afago neste momento de grandes tensões. Fico muito, mas muito feliz pelas notas daqueles que me procuraram. Não divulgarei, para não soar pretencioso. Vibro com vocês e por vocês. Ao mesmo tempo, também deixo o meu abraço fraternal aos tantos que não tiveram o resultado esperado, meus alunos ou não. Afinal, em um concurso como o ENEM, de 4 ou 5 milhões de redações, apenas umas 50 (atenção: CINQUENTA) pessoas tiram a nota máxima no Brasil. Só daí já se tira muita coisa. Desestabiliza, entristece, abala- isso vindo de alguém que já foi derrubado inúmeras vezes. Permitam-se sentir quaisquer emoções. Aos poucos, a gente ressignifica e segue em frente, vão por mim. Cada um no seu tempo, dentro das lições que nos cabem.

Caminhemos juntos!

Written by Marcos M.

janeiro 19, 2019 at 2:50 pm

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Visibilidade

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Em 2017, a prova de Português do vestibular da PUC-RJ usou um texto de Carolina Maria de Jesus, uma mulher. Uma mulher negra. Uma mulher negra da favela. Em 2018, a prova do ENEM trouxe à tona uma discussão sobre pajubá, um dialeto falado por travestis, dando visibilidade à comunidade LGBT. Em 2019, a prova de redação da segunda fase do vestibular da UNICAMP pediu que o aluno produzisse um abaixo-assinado defendendo um professor de Filosofia acusado de doutrinação. ideológica Essa mesma prova, aliás, cobrou o livro Sobrevivendo no Inferno, com músicas dos Racionais MC’s. Também em 2019, a redação da FUVEST tematizou a importância do passado para se compreender o presente, enaltecendo o trabalho dos historiadores.

As provas de concurso, sabemos bem, induzem currículo. Se você não vê- e pior: não reconhece- a necessidade de esses grupos ganharem visibilidade, você não merece o meu respeito. Enquanto isso, sigo com a consciência tranquila, armado das ferramentas teóricas e práticas que me cabem para garantir que a intolerância e o ódio não se propaguem. E vou te dizer: tenho muito, mas muito orgulho das pessoas que estão ao meu lado nessa luta.

Written by Marcos M.

janeiro 16, 2019 at 4:15 pm

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Vigília cidadã

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Dia 4 e seguimos (nem tão) firmes na vigília cidadã do governo eleito. No timaço de ministros escolhidos pelo presidente Jair Bolsonaro, por exemplo, lidamos com o seguinte:

1. Ricardo Vélez, ministro da educação: defende o projeto escola sem partido, vê doutrinação esquerdista no ENEM, disse que a ditadura militar no Brasil é um fato a ser comemorado e que quem define gênero é a natureza. Quer colocar o MEC, segundo palavras próprias, em defesa da religião, da família e do patriotismo.

2. Ernesto Araújo, ministro das relações exteriores: é admirador das monarquias, crítico das esquerdas e do que chama de “ideologia” globalista, defende o nacionalismo ocidental, vê o presidente de forma messiânica, dizendo que vai “libertar o Brasil por meio da verdade”. Inaugura o olavismo no Itamaraty; a saber: Olavo de Carvalho, referência ideológica e intelectual do novo governo, diz coisas do tipo: Newton era um burro; o movimento gay faz parte de uma conspiração comunista global; o marxismo nasceu do satanismo; e Darwin é o pai do nazismo.

3. Damares Alves, ministra da mulher, da família e dos direitos humanos: advogada, educadora e pastora evangélica, diz que sua gestão trabalhará pelo direito à vida; segundo a ministra, em declaração feita na internet, “é o momento de a igreja governar”. Diz que a mulher nasce para ser mãe, que meninas serão princesas e meninos, príncipes. Para ela, tem início uma nova Era no Brasil, na qual menina veste rosa e menino, azul.

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Boa sexta-feira para todos vocês.

Written by Marcos M.

janeiro 4, 2019 at 8:16 am

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