O INVENTOR

Pegue o liquidificador, misture teatro, cinema, tv, literatura, uns outros ingredientes e…voilá.

Posts Tagged ‘poesia

O seu santo nome

leave a comment »

Não facilite com a palavra amor.
Não a jogue no espaço, bolha de sabão.
Não se inebrie com o seu engalanado som.
Não a empregue sem razão acima de toda a razão ( e é raro).
Não brinque, não experimente, não cometa a loucura sem remissão
de espalhar aos quatro ventos do mundo essa palavra
que é toda sigilo e nudez, perfeição e exílio na Terra.
Não a pronuncie.

Drummond, aquele que sempre fala por todos nós

Written by Marcos M.

janeiro 2, 2015 at 7:03 pm

Haiku de ano-novo

leave a comment »

Haiku* de ano-novo:

No eco dos fogos
Os olhares se encontraram
Sumiram no vento

(MM)

* forma curta de poesia japonesa geralmente caracterizada por 17 sílabas (5-7-5) e por se basear numa analogia de que faz parte algum elemento da natureza.

Written by Marcos M.

dezembro 30, 2014 at 11:34 am

Publicado em literatura, poemas, poesia

Tagged with , , , ,

Você

leave a comment »

Written by Marcos M.

dezembro 30, 2014 at 11:22 am

A atualidade da poesia, por Antonio Cícero

with one comment

Frequentemente, ao fazer conferências ou participar de mesas de debates pelo Brasil afora, ouço pessoas que perguntam se a poesia escrita não seria um gênero inteiramente anacrônico no mundo acelerado em que vivemos, cercados de “smarphones”, “tablets”, “laptops”, “Facebooks”, “Twitters”, “Instagrams”, “WhatsApps” etc.
Creio entender a razão pela qual a atualidade da poesia é mais questionada do que a de outros gêneros artísticos tradicionais. É que, de maneira geral, as outras artes podem ser apreciadas não apenas de modo refletido e profundo, mas também são capazes de nos entreter de modo ligeiro e superficial. Podemos apreciar uma peça musical mesmo enquanto estamos, por exemplo, trabalhando. E podemos apreciar uma obra plástica como uma pintura ou uma escultura, por exemplo, “en passant”. A poesia escrita, por outro lado, quase sempre exige de nós, para que a apreciemos, que a leiamos de modo refletido e profundo.
A mais evidente razão para isso é que a linguagem do poema não funciona do modo convencional e cotidiano. Normalmente, usamos a linguagem como um instrumento para a comunicação e o pensamento prático, utilitário, instrumental. Pois bem, a linguagem do poema nem se limita a ser mero instrumento ou meio, nem está a serviço do pensamento instrumental. No poema, fundem-se meio e fim, assim como outras categorias que, no uso convencional da linguagem, tendem a se manter separadas, tais como essência e aparência, forma e conteúdo, significante e significado etc. Por isso, não podemos ler um poema ao modo impensado, ligeiro, superficial, automático, irrefletido em que lemos a maior parte das coisas. A leitura do poema toma tempo, e dá trabalho.
Ora, algo que, além de tomar tempo e dar trabalho, não oferece qualquer perspectiva de trazer alguma recompensa palpável — e, de preferência, pecuniária — é simplesmente incompatível com a hoje predominante apreensão instrumental do ser. Para esta, ela não faz senão atrapalhar a vida.
Pois bem, é exatamente por ser capaz de impedir a redução da vida a essa sua dimensão instrumental que a poesia é importante no mundo contemporâneo. É ao subverter ou perverter a linguagem instrumental e sua correspondente apreensão instrumental do ser que a poesia convida o leitor a se permitir livremente enredar e fascinar pelos sentidos dos versos, palavras, paronomásias, metáforas, metonímias, alusões, sugestões, melodias, ritmos, silêncios, espaços etc. dos poemas. E é ao deixar, nesse empenho, interagirem e brincarem em seu pensamento razão, emoção, intelecto, sensibilidade, intuição, memória, senso de humor etc., que o leitor enriquece a vida com um outro modo de apreensão do ser: o poético.

Written by Marcos M.

dezembro 3, 2014 at 2:11 pm

O APANHADOR DE DESPERDÍCIOS

leave a comment »

Uso a palavra para compor meus silêncios. 
Não gosto das palavras 
fatigadas de informar. 
Dou mais respeito 
às que vivem de barriga no chão 
tipo água pedra sapo. 
Entendo bem o sotaque das águas. 
Dou respeito às coisas desimportantes 
e aos seres desimportantes. 
Prezo insetos mais que aviões. 
Prezo a velocidade 
das tartarugas mais que as dos mísseis. 
Tenho em mim esse atraso de nascença. 
Eu fui aparelhado 
para gostar de passarinhos. 
Tenho abundância de ser feliz por isso. 
Meu quintal é maior do que o mundo. 
Sou um apanhador de desperdícios: 
Amo os restos 
como as boas moscas. 
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto. 
Porque eu não sou da informática: 
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor os meus silêncios.

– Manoel de Barros

Written by Marcos M.

junho 7, 2014 at 6:17 pm

Publicado em Uncategorized

Tagged with